É importante começar. As mãos
começam a ficar tolhidas no seu mistério. Encantadas por estarem votadas ao seu
abandono natural. É preciso que elas regressem e participem do estar vivo. A
cabeça está aí, espera apenas um tempo de se fazer palavras. Também o corpo
quer ser outra coisa, quer ser espírito, mas eu quero que ele seja linguagem.
Não podemos esperar. Não por uma questão de tempo, mas de memória. Não de uma
memória vindoura mas a de um quotidiano que, também ele, se quer arrastar e
cair para o esquecimento. Lembrar é aqui importante. Começaram as primeiras
chuvas de Outono. Eram precisas, diz quem sabe: lava-se um pouco o chão da
terra e o ar fica mais respirável. Fizeram-se esta noite pequenos charcos nas
ruas. Deve ter chovido muito. Todos se desviam, e os olhos perseguem um fim ao
longe. Estamos a ficar sonâmbulos, não preenchidos de sonhos mas de trabalhos.
E os dias são estações ferroviárias que se perdem no nevoeiro. Ficam-nos
algumas. As que merecem. Também os dias.
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Abra de alguma lucidez audível / o que nem sabe-se por palavras nem / na música caminha, nem o silêncio anuncia-o [...] (J.O.Travanca Rego)
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