Etiquetas

Abra de alguma lucidez audível / o que nem sabe-se por palavras nem / na música caminha, nem o silêncio anuncia-o [...] (J.O.Travanca Rego)

31 março, 2014

Um Jardim Abandonado que Desbota, novo livro

Já não publicava poesia desde 2002. O último «À Procura da Cidade Sob a Luz Artificial» foi publicado pela Black Sun, nesse ano longínquo. Sai agora «Um Jardim Abandonado que Desbota».
Deixo aqui um poema:

(segundo)

E uma noite depois quiseste ficar comigo.
Tudo parecia idêntico menos as nossas mãos
que trémulas seguravam o silêncio
não fosse ele soltar-se e partir-se
e espantar os pássaros para bem longe.

Tínhamos ambos a língua inchada
de nada dizer
do sarro que se cultiva na superfície
que sabe por vezes a sangue
quando lavrado com os dentes.

Dá-me a tua mão, pedes-me,
mas ela tem a força
de nunca ter sido corpo
e desmancha-se a caminho da tua.

Quando te toco é já  um feixe de ossos e carne que se alonga
desprendendo-se com anéis e tudo para o silêncio
lá fundo.

Aperta cada vez mais, sufoca-a,
até que seja tua, tua pele,
ou um anjo degolado:

peço-te.

Sem comentários: